sábado, 25 de janeiro de 2014

Cantinflas e eu


Um dos filmes de que mais gosto é o “A volta ao mundo em 80 dias”. Alegre, agradável, com paisagens maravilhosas, em que participaram ótimos atores, levou a história de Jules Verne à tela de uma forma altamente competente. Dentre tudo que aprecio no filme, sempre me encanta o desempenho do ator Mario Moreno, o Cantinflas.

Capas do DVD do filme

Eu era adolescente quando tomei conhecimento da existência de Cantinflas, ao ler um artigo da revista “The Readers Digest”, àquela época bastante popular. Intitulado “Cantinflas, o Carlitos do México”, fazia um breve resumo biográfico do ator e destacava as semelhanças de Cantinflas com o personagem de Charles Chaplin.

Não me lembro de quanto tempo decorreu até eu assistir a “O policial desconhecido”, um dos filmes mencionados no artigo de “Seleções”.
Embora eu tivesse assistido a poucos filmes de Carlitos, pude constatar a semelhança dos personagens. Com uma diferença importante, porém: como os filmes de Cantinflas já eram da época do cinema falado, este acrescentava, às características semelhantes de tipo de vida, de indumentária, de atitudes de esperteza e de solidariedade ao próximo, um diálogo complicado para envolver e desorientar as pessoas de posição social superior. Enfim, era um brilhante embrulhão – em alguns papéis, analfabeto – que, na ocasião, me pareceu semelhante ao malandro brasileiro.
Fiquei freguês dos filmes do Cantinflas, pois, além do interesse específico em cada um, eu estava sempre aprendendo Espanhol.

De uma forma geral, seu personagem era um jovem pobre e ignorante que morava em uma casa de cômodos; em alguns casos tinha um emprego modesto, em outros estava simplesmente desempregado.
Sua indumentária era: camiseta longa de manga comprida, lenço no pescoço, uma espécie de echarpe que ele chamava de “mi gabardina”, calças amarradas com um cordão, caídas abaixo da cintura e um sapato comprido, de sola fina; usava também um pequeno chapéu de abas viradas para cima e ostentava um bigode diferente, nos cantos da boca. Seus amigos e vizinhos eram pobres como ele. Apesar de sabido e malandro, era muito generoso. Com frequência, tomava a iniciativa de ajudar alguém e enfrentava situações particularmente difíceis para uma pessoa mal vestida e ignorante. Contudo, ele se superava, mediante discursos incríveis.

Tenho na memória alguns diálogos dos filmes dele, principalmente de suas tiradas junto a autoridades a quem ia pedir providências. Por exemplo, em uma delas, Cantinflas vai ao Ministério da Educação, mal vestido, como de hábito. Consegue penetrar no edifício público com uma de suas conversas complicadas e se dirige ao gabinete do ministro. Quando a pessoa que o recebe (talvez o chefe de gabinete) o convida para sentar, ele agradece e diz: ¡Hay que haber educación en el Ministerio de La Educación!”.

Em outro filme, Cantinflas está dando uma aula de Espanhol para uns garotos. Em um certo ponto, ocorre o seguinte diálogo:

“Vamos a ver niños, ¿ustedes saben lo que es gramática? Se me hace que no saben.”... “Pero no importa, pues para eso estoy yo aquí, para decírselo. Gramática es el arte o la ciencia – pues en esto no nos hemos puesto de acuerdo – que nos enseña a leer y a escribir correctamente el “indioma” castellano.”
Um dos alunos corrige:
“Maestro, no se dice “indioma”, se dice idioma, de raíz latina”.
Ele responde:
“Si, pero yo no hablo de esa raíz, yo hablo de la raíz india, por eso digo indi-oma”.

Outro dia assisti pela internet a parte do “O bolero de Raquel”, seu primeiro filme colorido, cujo título provém de uma dança de Cantinflas com uma bailarina ao som do “Bolero”, de Ravel. É também um jogo de palavras, pois “bolero” significava engraxate e Raquel é a principal personagem feminina.
Uma cena do início do filme é de Cantinflas engraxando os sapatos de um turista americano diante do Castelo de Chapultepec, na cidade do México.
O turista pergunta:
¿Usted sabe en qué año “ser” construido este bonito “castilo”?”
O “bolero”, que ignora a data, enrola:
“No se dice “castilo”, se dice castillo. Fue construido, ahora verá usted, en el año... porque cuando la batalla del chapulin que agarramos en el cerro de... no, fue después del plan del agua sucia. Fue en el año... no, fue antes.”
¿Antes de que?”
“Del año ese que le iba a decir, porque ya ve usted que en cuestión de fechas hay muchas controversias”...

E seguiu com o mesmo discurso complicado, enquanto engraxava os sapatos e pintava com pontos pretos as meias brancas do cliente, cujas calças o impediam de ver a arte do engraxate.
No final do serviço, o “bolero” cobrou mais caro por falta de troco para um dólar. Como o cliente protestou, ele, cinicamente, argumentou que o preço resultou barato, considerando a aula de história que tinha dado e, mais, a decoração das meias. 

Mario Moreno iniciou sua carreira artística no circo, onde começou dançando; passou depois a uma companhia de teatro em que fazia pequenos papéis e dançava no final da função. Esta companhia percorreu o México todo. Ele voltou à cidade do México e seguiu trabalhando em vários circos.
Sua experiência de vida de menino pobre, mais o trabalho circense e suas habilidades de dançar e de tourear serviram como base valiosíssima para sua atuação nos mais de 40 filmes em que atuou. Seu personagem Cantinflas, que praticamente se incorporou à sua própria identidade, tornou-se marcante por sua roupa, seus gestos e, especialmente por seus diálogos cheios de jogo de palavras, de malícia, intencionalmente confusos. A tal ponto característicos, que deram origem, na língua Espanhola, ao verbo “cantinflear”.

Assisti, nestes dias, pela internet, a trechos de alguns de seus filmes e ainda achei graça, apesar dos tempos serem outros. As histórias de seus filmes eram um tanto piegas, mas estão relacionadas com o próprio sentimento do ator que, além de sua atividade profissional específica, lutou patrioticamente pelo cinema do México e, tendo ganhado muito dinheiro, fez contribuições sociais de vulto. Foi um filantropo. 

Fora do contexto dos filmes mexicanos, Mario Moreno mostrou toda sua maestria na atuação em “Volta ao mundo em 80 dias”. Conseguiu transformar o Passepartout em Cantinflas, com uma graça e simpatia totais. Para mim, embora tenha apreciado suas “cantinfladas” em vários de seus filmes, foi o seu maior desempenho.

Se Jules Verne fosse reeditar o livro, mudaria o nome do criado de Mr. Phileas Fogg.

Washington Luiz Bastos Conceição



Nota: Para reproduzir melhor os diálogos dos filmes, recorri ao livro “Cantinflas” de Adolfo Perez Agustí, e-book disponível na loja Kindle da Amazon.com.br . A foto acima foi copiada da capa do mesmo livro.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Planejamento para o ano


Os propósitos, as promessas, os planos individuais de ano novo perderam a credibilidade, de uma forma geral. Viraram piada, porque muito pouco cada um cumpre daquilo que diz pretender fazer “no ano que vai nascer”.

Eu não faço promessas sobre alguns itens críticos pessoais, como intensificar as atividades físicas e perder peso, por exemplo. Contudo, um planejamento de meus escritos eu arrisco. É disto que trata minha notícia de hoje.



O Blog

Depois de ter comentado, em publicação anterior, a visitação a este blog, parece-me apropriado fazer, junto aos leitores, algumas considerações sobre o que pretendo realizar em 2014.

Tenho o firme propósito de manter minha abordagem de tratar de assuntos variados que, espero, sejam em sua maioria de interesse para os gentis leitores; e de evitar assuntos polêmicos, de forma a não criar conflitos com os amigos, pois escrevo para eles e quero continuar recebendo a visita de todos. Meus escritos continuarão sendo memórias, histórias baseadas em minha experiência de vida e comentários sobre aspectos da vida de hoje.

Sendo ano de Copa do Mundo no Brasil, vou contar algumas das histórias deste sofrido torcedor da seleção brasileira de futebol. Depois, virão as eleições, mas, por polêmico, prometo não me aventurar a tratar deste assunto.

Como pano de fundo de minhas publicações no blog, permanecerá a mensagem (direta ou indireta) de que pessoas que desejem escrever, sejam crônicas ou livros, poderão fazê-lo e obter desta atividade uma grande satisfação pessoal.
 

Os Livros

Publiquei, até esta data, os livros: “Histórias do Terceiro Tempo”, em 2009; “Para você se animar a escrever seu livro”, em 2010; “O Projeto 3.7 e Nós”, em 2011; a versão deste último em Inglês, “The Project 3.7 and Us”, em 2012; e o “Crônicas Selecionadas 2012-2013”, em 2013.

Todos, publicados em versão impressa e como “e-books” (livros digitais).

Abaixo, as capas do recém-publicado “Crônicas Selecionadas 2012-2013”, nos dois formatos (impresso e e-book, respectivamente). O texto é o mesmo.


Resumo a seguir, para a cara leitora ou prezado leitor interessado no assunto, como procedi para realizar essas publicações, pois me parece uma informação útil, especialmente para quem pretende publicar livros impressos ou “e-books”.

Os dois primeiros livros foram impressos no Brasil, em gráficas especializadas em pequenas tiragens. Os outros dois estão disponíveis mediante o processo de impressão “on demand” (ou seja, por encomenda individual) no exterior. Este sistema reduz bastante o custo unitário do livro, o autor não tem a despesa de impressão de um lote inicial e não precisa manter um estoque de exemplares. Para o comprador do Brasil, o preço, incluindo o frete, é módico, mesmo considerando o patamar atual da taxa do dólar. Aguardo, esperançoso, que se tenha logo esse recurso no Brasil.

Para quem lê, o hábito prazeroso de ter um livro de papel nas mãos permanece, não há dúvida. Entretanto, vejo, desde algum tempo, e estou insistindo nisto, a leitura de livros digitais como uma alternativa muito boa.

Ler um livro ou uma revista em um “tablet” é bastante confortável, com a vantagem de regular a iluminação, o tamanho das letras, e de obter imagens ótimas, coloridas (as quais, em alguns casos, até se movimentam).

Minha esposa tem um Ipad e lê, habitualmente, livros e revistas, sentada confortavelmente numa poltrona, e até deitada. Recentemente, leu um “livrão” que, impresso, teria 640 páginas, sem qualquer esforço físico.

Lembremos que os “tablets” têm, também e principalmente, recursos de computador, em especial de acesso à internet, e com eles podemos tirar fotos e filmar.

 
Bem mais baratos, simples, e destinados especificamente à leitura são os “e-readers” (leitores de livros digitais). Há três meses, comprei (no Brasil) um Kindle Paper White, que é relativamente barato. Surpreendeu-me muito favoravelmente. Pequeno e leve, menor que um “pocket book", ótimo para se ler em qualquer lugar, é a melhor solução para ler na cama, quando sua iluminação própria substitui com vantagem a lâmpada de cabeceira; e não incomoda a pessoa que estiver ao seu lado e queira dormir. Mais uma característica agradável: sua bateria permanece carregada por muito mais tempo que as dos telefones celulares que temos em casa.

Tenho o hábito de ler, concomitantemente, mais de um livro (descobri que outras pessoas fazem o mesmo). Estou montando uma biblioteca no “e-reader”, de modo que posso mudar de livro rapidamente (sem procurar na estante ou por toda a casa). E mais, quando volto ao livro que estava lendo antes, ele é aberto exatamente na página em que interrompi a leitura. Como dizem hoje em dia: “Não é fofo?”.

 
Quanto ao meu trabalho com livros em 2014, obedecendo à minha inclinação de escrever memórias, estou trabalhando em um livro de histórias sobre a relação, minha e de minha família, com a Califórnia. Pretendo publicá-lo este ano.

Penso também em enfrentar o desafio de escrever ficção. Contos estão se esboçando na minha cabeça, mas não sei se serão atrativos para meus condescendentes leitores e se chegarão a formar um livro até o final do ano.




Espero continuar a receber a atenção de meus caros leitores e agradeço antecipadamente.


Washington Luiz Bastos Conceição