Dentre os vários livros que me foram presenteados há algum tempo, e
que ainda não havia lido, decidi tentar o “Uma mente curiosa”, de Brian Grazer.
Nunca tinha ouvido falar deste senhor, o que revela minha imensa ignorância do
negócio de cinema. No entanto,
assisti a alguns filmes dos muitos que ele produziu, e gostei deles. São “O
código Da Vinci”, “Apolo 13”, “O gangster”, “O plano perfeito” e “Uma mente brilhante”,
este premiado no Oscar de 2002 nas categorias de melhor filme, melhor roteiro
adaptado, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante.
Na introdução do livro, o autor valoriza a curiosidade
afirmando ser ela a “qualidade mais valiosa, o recurso mais importante, a
motivação central da minha vida” e a considera tão importante quanto os
conceitos de criatividade e inovação. Quando ele comenta a atitude dos adultos
quando as crianças fazem perguntas, eu passei a pensar no meu tempo de menino.
Recordei-me de que fui educado de forma a não
fazer muitas perguntas ou insistir com elas quando não obtinha respostas. Uma das razões talvez fosse a dificuldade, em muitos casos, que os adultos tinham para responder (o caro leitor ou prezada leitora se lembra
do conto “Plebiscito” de Arthur Azevedo?). Curioso não era um adjetivo elogioso
para um menino educado e, se fosse insistente, seria considerado importuno (chato, no
Português de hoje). Às vezes, a pergunta era embaraçosa. Por
exemplo: eu tinha, talvez, uns oito anos, meus pais conversavam com visitas na
sala de casa e eu estava presente. Fizeram referência à morte de uma conhecida
e alguém perguntou do que ela tinha morrido. Com certa reserva, meu pai
respondeu que tinha sido de parto. Eu, embora já soubesse como crianças vêm ao
mundo, apenas não conhecia a palavra, perguntei: “Pai, o que é parto?”. Meu
pai, surpreso e embaraçado, respondeu: “Pergunte depois ao Túlio.” (Túlio era
meu irmão mais velho).
Minha educação teve, certamente, influência em minhas reações de
“anticuriosidade”, pois cresci valorizando a capacidade de controlar a
curiosidade. Por exemplo, hoje sou capaz de buscar o resultado de exames de
laboratório e nem sequer ler o laudo, pois sei que importantes serão a
observação e a conclusão do meu médico. Os laudos dos médicos que realizam os
exames têm de conter tudo que eles observaram, o que poderá preocupar o
paciente; esta é mais uma razão para eu não examinar os laudos com
antecedência. Por exemplo, faz mais de 20 anos que minhas radiografias de tórax
indicam “aorta ligeiramente alongada” e ninguém se preocupa com isso (nem eu).
Voltando ao livro.
De início, pareceu-me que Grazer fazia uma espécie de
autopropaganda, pois ele, realmente, não peca pela modéstia. Depois,
considerando que ele estava contando histórias de sua vida, concluí que não
podia mesmo esconder seu notável sucesso profissional. Embora ele credite esse
sucesso à sua curiosidade aparentemente compulsiva, suas ações mostram grande
criatividade, muita persistência e enorme ousadia, mais precisamente, uma
admirável “cara de pau”.
Além da introdução, o autor discorre, em sete capítulos, sobre as
características e aspectos importantes do uso da curiosidade, principalmente na
vida profissional, e pude notar sua preocupação em transmitir sua experiência
ao leitor, tornando-se até didático.
Como “bônus” (termo usado em filmes em DVD), ele relata várias das suas
conversas de curiosidade com pessoas famosas, algumas em posições muito importantes, nas quais se notam sua iniciativa e criatividade (em uma delas, conta como repartiu
uma taça de sorvete com a Princesa Diana no jantar realizado após a “première”
real do filme “Apolo 13” em Londres).
Acrescenta, ainda, uma lista muito extensa de pessoas com quem manteve conversas
de curiosidade e um apêndice de aconselhamento: “Como ter uma conversa de
curiosidade”.
O livro teve, como coautor, o jornalista Charles Fishman que, certamente, foi quem organizou a redação do mesmo.
Ao longo da leitura, como a curiosidade se manifesta com perguntas, fiz
uma avaliação pessoal de que, embora eu não seja um curioso compulsivo, tive de
fazer perguntas a vida inteira, desde os primeiros bancos escolares e durante
toda a vida profissional – e continuo perguntando. Na engenharia civil, para
elaborar projetos, tive sempre de colher as informações necessárias; no estudo e
uso dos computadores e nas entrevistas técnicas e de vendas, eu tinha de fazer
muitas perguntas e estar preparado para responder as perguntas dos outros
participantes (na IBM falava-se do uso do “por quê?” ao cubo).
Reconheço, entretanto, que minha curiosidade é dirigida, específica. Não
é instintiva e não fui educado para ser curioso. O efeito da leitura do livro
será fazer com que eu, aos 85 anos, procure aguçar minha curiosidade. Esta deverá
ajudar-me em minhas atividades, especialmente nesta, tão agradável, de escrever para os amigos.
Washington Luiz Bastos Conceição